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A SPESM e o Centro de Saúde Mental de Dax ("Le Centre Hospitalier de Dax-Côte d’Argent")

  • spesmspesm
  • 1 de mai. de 2013
  • 17 min de leitura

Serviços de Saúde Mental portugueses e Centro de Saúde Mental de Dax - 30 anos de história


Estávamos em 1985 e o Centro de Saúde Mental de Setúbal comemorava o 15º aniversário da sua abertura ao público. Do programa de eventos escalonados ao longo do ano, constavam umas Jornadas Internacionais de intercâmbio reflexivo sobre Psiquiatria de Sector e Psicoterapia Institucional para as quais seriam convidadas equipas de Saúde Mental portuguesas e a Union Internationale des Sociétés d’Aide à la Santé Mentale[1].

As Jornadas tiveram lugar em Setúbal (17 e 18 de Maio) e, pelo que vem a seguir, importa referir que na participação portuguesa estava o Duarte Osório, então Director do Centro de Saúde Mental de Castelo Branco; e, na vasta participação francófona, estavam Michel Minard e Alain castera do Centro de Saúde Mental de Dax. A qualidade dos intercâmbios tocaram o conjunto de participantes; mas entre Michel, Alain, Osório e a equipa de Setúbal ouso dizer que houve encontro — encontro que, como se verá, frutificou ao longo de trinta anos e se cristalizou numa amizade recíproca cuja fidelidade perdura.


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Ao tempo das Jornadas a que se está a fazer referência era tensa, áspera e de confronto, a relação entre “hospitalo-centristas e comunitário-centristas” em Portugal: os primeiros cantonados, na sua generalidade, nos hospitais psiquiátricos e nos Departamentos Psiquiátricos das Faculdades de Medicina[2]; os segundos, vinculados e a praticarem na rede dos Centros de Saúde Mental criados no quadro da base VIII da Lei de Saúde Mental de 1963 inspirada, em parte, pelo espírito da Lei Kennedy sobre os “Centros Comunitários de Saúde Mental”.

Os nossos Centros de Saúde Mental eram, como se recorda, estruturas descentralizadas gozando de autonomia técnica, administrativa e financeira e, na sua maior parte, implantados nas capitais de distrito tendo de comum o trabalharem com uma aflitiva penúria de recursos humanos — nomeadamente nos que mais se distanciavam dos centros urbanos de Lisboa, Porto e Coimbra. O que era bem diferente relativamente aos profissionais que trabalhavam e investiam nos grandes estabelecimentos, virados para si próprios e escudados em barreiras múltiplas. Diferentemente destes, acontecia que os que trabalhavam nas pequenas equipas que asseguravam o funcionamento dos Centros de Saúde Mental a trabalhar e a residir no “terreno” comunitário se tornavam personalizadamente conhecidos de toda a gente — directa ou indirectamente. Dizer isto, é dizer que os profissionais destas equipas implantadas no terreno estavam sob escrutínio social permanente tanto na sua vida profissional como privada e que as relações serviços-utilizadores se desenvolviam num quadro e ambiente estruturalmente diferentes dos que são próprios da impessoal rigidez burocrático-administrativa característica dos grandes estabelecimentos hospitalares.

Na verdade, se por um lado não era confortável a posição dos profissionais comunitariamente inseridos e localmente residentes, por outro criava-se aí um complexo tecido de relações indutoras de uma imagem pública de serviço (e de serviço público) que impregnava e dava cor às funções de acolher e cuidar. Todavia, para além destas dimensões difusas propiciadoras da eficácia das equipas em exercício comunitário há que dar relevância ao que elas potenciavam nas relações de articulação e cooperação inter-institucional com os serviços locais de Saúde — equipas dos Cuidados de Saúde Primários — e os de Acção Social; condições básicas para uma efectiva e eficaz intervenção precoce no processo do adoecer, nos seguimentos articulados em parcerias informais (mas particularmente eficazes), na prevenção das recaídas e das hospitalizações psiquiátricas assim como das desinserções socio-profissionais e familiares.


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Voltando à participação francesa nas Jornadas antes referidas devo dizer que foi numerosa e na quase totalidade composta por psiquiatras hospitalares universitários e não universitários da região da Aquitânia (França); Michel Minard e Alain Castera de Dax, constituíam uma excepção nesse vasto conjunto pois que eram os fundadores e dinamizadores de uma estrutura de atendimento e cuidados centrados na acção comunitária com forte investimento no ambulatório domiciliário; estrutura essa (Centro de Saúde Mental de Dax) que estando administrativamente vinculada a um hospital geral gozava no entanto de plena autonomia técnica e de gestão de recursos.

Na participação portuguesa, como também se disse, estava Duarte Osório responsável do Centro de Saúde Mental de Castelo Branco com quem a equipa do C. S. M. de Setúbal já tinha relações de cumplicidade cognitivo-afectiva que haviam emergido com a vinda dele e outros membros da sua equipa ao II Encontro Nacional Sobre o Ambulatório em Saúde Mental em 27, 28 e 29 de Abril de 1984 a que se seguiu, nesse mesmo ano (23 de Junho), a participação da equipa de Setúbal no 1º Encontro Nacional dos Centros de Saúde Mental por ele organizado em Castelo Branco — ao qual muitos outros se seguiriam entre os fins da década de 80 e Julho de 1992.

Ao falar das Jornadas de Setúbal (1985) aludi a uma antropofenomenologia de encontro partilhada por Osório, membros da equipa de Setúbal, Alain Castera e Michel Minard para a qual terão concorrido algumas (mas de maior importância) circunstâncias comuns de trabalho: uma praxis organizativa tendo subjacente a convicção da incontornável necessidade de uma equipa transdisciplinar inspirada (e funcionando) por princípios democráticos, a opção e adopção do modelo bio-psico-social da Saúde Mental, a ética do trabalho em proximidade, a grande limitação de recursos — em Portugal, na rede dos Centros de Saúde Mental, era, como se disse, a penúria.

Foram os nossos amigos Michel Minard e Alain Castera que deram voz operacional a esta partilha comum: propuseram que se levasse à prática um projecto de estágios no qual as equipas portuguesas fossem a Dax e a de Dax viesse a Portugal; de igual modo, a participação comum em eventos julgados de relevância que porventura viessem a ter lugar em França e Portugal.

Será fastidioso e porventura sem interesse referir aqui a multiplicidade de fóruns em que se cooperou e participou: nas Journées de la Fédération des Associations Croix Marine et d’Aide à la Santé Mentale; Journées d’Angers organizadas por Pierre Delion e sua equipa, Journées de Saint Alban, Journées de l’Association Méditerranéenne de Psychothérapie Institutionnelle em Marselha, Jornadas de Réus (Catalunha), etc. Todavia importa destacar: o estágio em que membros da equipa de Setúbal se deslocaram a Dax (Dezembro 1986) e em que nos foi proporcionado o inesquecível encontro com Francis Jeanson[3] que logo aí aceitou o convite para participar e intervir no Encontro Internacional sobre Relação terapêutica no Quadro da Psiquiatria de Sector (Évora, 19 e 20 Outubro 1987) Encontro em que, entre outros, estiveram presentes J. Oury, F. Tosquelles, R. Gentis, a Labad de Réus; as Jornadas Luso Francesas sobre Saúde Mental e Cuidados de Saúde Primários (1986) cujo programa incluiu a Jornada de 13 de Maio em Grândola, a de Castelo Branco a 15 e a de Bragança a 17; IV Cours Internationale sur les techniques de Soins en Psychiatrie de Secteur (Villeurbanne – Lyon, 25 a 29 Abril 1988). E, a partir de 1989, a organização bianual, por parte da AREPP (Association de Recherche et Étude en Psychiatrie Publique) do Centro de Saúde Mental de Dax das famosas “Journées de Dax” para a qual sempre foi convidada vasta participação transdisciplinar portuguesa.

Depois, com a reanimação da S.P.E.S.M. em 2004[4], foi a parceria organizativa, ano lá, ano cá das Jornadas de Dax – S. Pedro do Sul.


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Evocou-se uma caminhada de trinta anos em que, lado a lado, a equipa de Dax (estruturada nas figuras referenciais de Michel Minard e Alain Castera) e equipas portuguesas[5] identificadas com o espírito e objectivos da SPESM foram balizando um caminho e tecendo relações com equipas e estruturas de promoção do saber sobre Saúde Mental e sobre a prática humanista da Psiquiatria no vasto espaço da latinidade franco-ibérica e do Brasil[6].

Importa agora, (o espartilho das cinco páginas aperta...) e em síntese, questionar: deste trinténio de convivialidade de uma estimulante heterogeneidade tanto ideológica como de praxis que efeitos, num vasto leque de estruturas e equipas psiquiátricas portuguesas, se poderão escrutinar?

1. A partir do referido Encontro de Maio de 1985 e dos Encontros que tiveram lugar ao longo dos anos gerou-se entre a “equipa de Dax” e os responsáveis dos Centros de Saúde Mental portugueses uma relação de partilha cognitiva e de sentimentos de camaradagem e amizade que perduram — húmus cujos efeitos fertilizantes na Psiquiatria e Saúde Mental portuguesas merece estudo.

2. Deste encontro e partilha resultou uma superação do estado de isolamento e enquistamento em que os Centros de Saúde Mental portugueses se encontravam resultando disso um vivaz movimento de aproximação e de intercâmbios que conduziram à formação de uma consciência colectiva de um modelo de concepção e prática da Psiquiatria que importava defender — assim se instituindo o “Secretariado dos Encontros dos Centros de Saúde Mental” responsável pela regular organização dos mesmos.

3. Destes intercâmbios resultaram assim, não apenas uma linguagem enriquecida por outros conceitos, como o investimento na transformação de modelos organizativos e das respectivas praxis; nomeadamente: levar à prática o modelo da Psiquiatria de Sector centrada na acção comunitária tornou-se um objectivo comum na rede dos Centros de Saúde Mental embora, como se compreende, com variáveis graus de investimento tanto institucionais como pessoais.

4. Com este processo de relação luso-francesa operou-se um visível investimento dos sentimentos colectivos de “auto-estima” por parte da rede dos Centros e, com isso, (e também por isso) um claro movimento de emancipação face à entre-nós tradicional e “senhorial” tutela universitária.

5. Na vertente mais propriamente formadora e pela participação dos profissionais portugueses (dos Centros de Saúde Mental, dos Hospitais Sobral Cid e Magalhães de Lemos, da Clínica Universitária da Universidade Nova de Lisboa e outros) nos eventos organizados em França pelos nossos amigos de Dax resultou, em nossa opinião, uma visível adesão dos portugueses a outras metodologias de partilha de conhecimentos tal como já antes era proposto pela S.P.E.S.M.; nomeadamente e no que concerne à realização dos ateliers de discussão transversalmente participada e à abertura e abrangência no tratamento dos temas — isto em claro contraste com o tradicional paralelismo dos discursos unidireccionais, com ou sem power point.

6. Mais haveria a referir se o “espaço” para esta escrita o permitisse; nomeadamente no apoio que, por intermédio de Michel e Alain, a Union Internationale des Sociétés d’Aide à la Santé Mentale prestou à Psiquiatria desenvolvida pelos Centros de Saúde Mental procurando defende-los da então eminente integração nos hospitais gerais — o que acabou por acontecer em 31 de Julho de 1992 com as nefastas consequências vastamente conhecidas.


E assim, por aqui se fica.


Sesimbra, Novembro de 2013


Bráulio de Almeida e Sousa





[1] - Fundada em Bordéus em 1966 sob o patrocínio da Fédération des Sociétés Croix Marine e em cujo primeiro Comité Executivo figuravam entre outros, G. Daumèzon, F. Tosquelles, Ajuriaguerra, Collomb, Bráulio A Sousa, Peter Berner em representação da Federação Mundial para a Saúde Mental.


[2] - Exclua-se a Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa cujos responsáveis eram e têm sido claramente “comunitário-centristas” no que concerne à organização e praxis de cuidados.


[3] - Filósofo, ex-Chefe de Redacção da Revista Temps Modernes fundada por Jean-Paul Sartre; depois, quando os seus interesses cognitivos se viraram para Psiquiatria, fundou com a sua esposa e Nicole Rumeau a SOFOR e escreveu “La psychiatrie au tournant”.


[4] - A extinção da rede dos Centros de Saúde Mental em 31 Julho 1992 e a integração dos respectivos serviços e património nos hospitais gerais conduziram a um interregno em que a SPESM pouco pôde organizar.


[5] - Dos Centros de Saúde Mental, da Direcção Nacional de Saúde Mental, dos Hospitais Sobral Cid e Magalhães de Lemos.


[6] Ana Pita e Goldberg de S. Paulo e João Ferreira Filho do Rio de Janeiro que participaram no Colóquio Luso-Brasileiro sobre Psiquiatria e Saúde Mental (1991) e no I Encontro Internacional Sobre Psiquiatria de Sector (Setúbal, 1992).



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L’ASSOCIATION POUR LA RECHERCHE ET L’ETUDE EN PSYCHIATRIE PUBLIQUE

LE CENTRE HOSPITALIER DE DAX

Avec la collaboration de :

La Société Portugaise pour l’Etude en Santé Mentale L’Association SOFOR (Sud-Ouest-Formation-Recherche) Les Editions ERES

10èmes JOURNEES DE PSYCHIATRIE DE DAX

AUTOUR DE LA NOTION DE POLITIQUE EN PSYCHIATRIE

JEUDI 6 et VENDREDI 7 DECEMBRE 2007

avec le soutien du

Conseil Général des Landes

Jeudi 6 décembre 2007

09 h 00 Ouverture des journées (animées par le Dr Michel MINARD et Mr Patrick FAUGERAS) Mme Hélène CLAUS, Présidente de l’A.R.E.P.P. Dr Dominique MALET-PINSOLLE, Psychiatre, Coordinatrice de Pôle Mr Francis SALLES, Directeur du Centre Hospitalier de Dax.

09 h 30 Quelle politique psychiatrique demain ? Dr Nicole GARRET-GLOANEC, Psychiatre (Nantes)

10 h 00 Psychiatrie et politique, ou la disharmonie d’un vieux couple Pr Houria CHAFAI-SALHI, Psychiatre (Université d’Alger)

10 h 30 Pause

11 h 00 La néo psychiatrie à l’oeuvre ou comment se débarrasser du gêneur? Dr Christian MULLER, Psychiatre (Lille)

11 h 30 Psychiatries et antipsychiatries : le rôle du contexte politique dansl’évolution de la psychiatrie. Dr Jacques HOCHMANN, Psychiatre (Université de Lyon)

12 h 00 La Santé Mentale aujourd’hui Dr João REDONDO, Psychiatre (Coimbra, Portugal)

12 h 30 Déjeuner

15 h 00 La tentation du biologique et la psychanalyse Dr Gérard BAZALGETTE, Psychanalyste (Bordeaux)

15 h 30 Ateliers 1. Analyse institutionnelle et politique Dr Jean OURY, Psychiatre (Clinique de la Borde) Dr Danièle ROULOT, Psychiatre (Clinique de la Borde) Dr Michel DEMANGEAT, Psychiatre (Bordeaux) Dr Jean BROUSTRA, Psychiatre (Libourne) Dr Enrique SERRANO Psychiatre (Oviedo, Espagne) Mme Isabelle AUBARD, cadre infirmier (Paris)

2. Politique, psychiatrie et communauté Mr Alain CASTERA, Cadre Supérieur de Santé (Dax) Dr Edmond PERRIER, Psychiatre (Brumath) Dr Duarte OSORIO, Psychiatre (Castelo-Branco, Portugal) Mme Marie-France GISSELMANN, Psychiatre (Brumath) Mme Anne-Marie LEYRELOUP, Cadre de Santé (Paris) Dr Eric PIEL, Psychiatre (Paris)

3. Santé Mentale : une discipline d’interface entre art clinique et art politique Dr Guy BAILLON, Psychiatre (Bondy) Dr Fatima DOUKHAN, Psychiatre (Bondy) Dr Patrick CHALTIEL, Psychiatre (Bondy) Mme Nicole RUMEAU, Directrice de la SOFOR, Formatrice (Bordeaux)

4. Expérience des politiques, politique de l’expérience Dr Joaquim FIDALGO DE FREITAS, Psychiatre (Viseu – Portugal) Dr Dimitri KAROVOKYROS, Psychiatre (Laragne) Dr Jacques TOSQUELLES, Psychiatre (Marseille) Mr Jean-Marie DARTIGUELONGUE, Cadre de santé (Dax) Dr Braulio DE ALMEIDA E SOUZA, Psychiatre (Lisbonne, Portugal) Mme Sandrine VRAINE, Cadre de santé (Dax)

Vendredi 7 décembre 2007

09 h 00 Ateliers

12 h 30 Déjeuner

14 h 30 Psychiatrie française, statistiques et politique Dr Hélène BRUN-ROUSSEAU, Psychiatre (Bordeaux)

15 h 00 Accordons nos violons Dr Michel LEMASSON, Psychiatre (Bordeaux)

15 h 30 Ils sont tombés sur la tête Mr Dominique FRIARD, Infirmier (Gap)

16 h 00 Politique ta mère Pr Pierre DELION, Psychiatre (université de Lille)

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10èmes JOURNEES DE PSYCHIATRIE DE DAX

AUTOUR DE LA NOTION DE POLITIQUE EN PSYCHIATRIE

La Santé Mentale aujourd’hui

João Redondo

De nos jours, l´homme dans sa relation avec le monde, soumit au néo-liberalisme à l´échelle mondiale, assume d´une certaine façon une tendance pour le banal, le vide, la futilité; tout l´intéresse mais d´une façon superficielle, vivant pour lui-même et pour le plaisir sans limites. Il est témoin d´énormes changements, si rapides et dans un espace de temps si court, qu'il ne sait pas à quoi s´en tenir. Tout en lui devient volatil, banal. Ses aspirations les plus profondes sont de plus en plus matérialistes et «consummériste», n´ayant aucun autre horizon en dehors de la multiplication ou du remplacement continu d´um object par l´autre plus moderne, plus médiatisé, «le dernier cri de la mode».


Dans ce monde du «je veux - je veux» et «tout de suite - tout de suite», ces passions, de cet homme version «light» renforcent la construction d´un monde «cool» aux antipodes de la souffrance, où quand on parle de tomber malade on parle d`un phénomène de destruction qui lui est étrange, pour lequel il n´est pas responsable, et où il n`existe aucune relation avec sa vie.


Quand on parle de santé mentale, il n´est pas facile de la définir dans sa totalité. D´une façon général, il existe, cependant, un consensus sur le fait que la santé mentale est plus qu´une absence de maladie mentale, englobant, entre autres aspects, le bien-être subjectif, l’auto-efficacité perçue, l´autonomie, la compétence, la dépendance inter-génerationelle et l´auto-realization du potentiel intellectuel et émotionnel de la personne.


Dans une société gérée par un «réalisme de commande» ­– associé à l´argent, au pouvoir, à la réputation, à la beauté, aux honneurs, aux titres, aux distinctions, aux plaisirs, à la sécurité, économique et sociale de la personne – où chacun voit ce qu´il veut, se détachant de la totalité que représente la relation avec l´autre, il n´est pas facile non plus, par la complexité et la multiplicité de décisions associées, la tâche de protéger et améliorer la santé mentale.


Les maladies mentales affectent plus de 25% de la population à un certaine période de sa vie. Atteignant des personnes de tous les pays et sociétés, de tout âge, femmes et hommes, riches et pauvres, populations urbaines et rurales, elles représentent un coût énorme en tant que souffrance humaine, incapacité et préjudices économiques. Entre les 20 principales causes d´incapacité dans le monde entier, on retrouve la dépression, les perturbations associées à la consommation de substances, la schizophrénie, la maladie de Alzheimer et autres démences.


En plus de la souffrance du malade, des charges pèsent sur sa famille. Elles vont des coûts économiques aux réactions émotionnelles, aux maladies, au stress face à un comportement perturbé, à la rupture de la routine domestique et à la restriction des activités sociales (OMS, 1997a). Ces familles font diverses adaptations et compromis, qui empêchent certains de ses éléments d’atteindre leur eficacité maximal au travail, dans leurs relations sociales et mêmme leurs loisirs. En plus des charges directes, il faut tenir compte des occasions perdues (Gallagher et Mechanic, 1996). Celles-ci sont des aspects humains dues aux maladies mentales, difficiles d´évaluer et de quantifier, malgré leur importance.


Au niveau de la communauté aussi, l´impact des maladies mentales a de multiples aspects à considérer. Une partie de cette contribution est évidente et mesurable, lorsque l´autre est impossible à évaluer. Parmi les éléments mesurables nous avons les services sociaux et de la santé, la perte de l´emploi et la diminution de la productivité, l´impact sur ceux qui pratiquent les soins, la mortalité prématurée et les problèmes légaux associés á certaines maladies.


Selon le Rapport de 2001 de l´O.M.S. (Organisation Mondiale de la Santé) « Bien que (...) les problèmes de santé mentale correspondent à 12% du poids mondial des maladies, les budgets destinés à la santé mentale représentent, dans la plupart des pays, moins de 1% des dépenses totales de la santé. La relation entre la dimension du problème et les subventions qui lui sont réservées est visiblement en déséquilibre. Plus de 40% des pays n´ont pas de politique de santé mentale et plus de 30% n´ont pas de programme dans ce domaine. Dans plus de 90% des pays, la politique de santé mentale ne concerne ni les enfants ni les adolescents. En plus, les plans de santé très souvent n´abordent pas les maladies mentales (…) au même niveau que les autres maladies, créant des problèmes économiques importants pour les malades et leurs familles.»


Ainsi, la souffrance continue et les problèmes augmentent.


Ils s´aggravent encore plus avec le mariage du Manuel de Diagnostique et Statistiques des Maladies Mentales (DSM) avec la Clinique. Le sujet et la maladie, «cloîtrés» en catégories syndromatiques, sont emprisonnés dans une narrative biomédicale, réductrice et positiviste associée à un pragmatisme technico-clinique qui insiste à exclure, le paradigme précedent qui incluait les psychothérapies systémiques, à la psychanalyse, à la psychiatrie sociale et tout ce qui en a dérivé.


Réduisant la compréhension et l´intervention thérapeutique à un ensemble de neurotransmisseurs, enfermés dans les neurones, le thérapeute assume relativement à la compréhension du devenir malade une perspective cérébrale et biologique de la nature humaine. Dans ce cadre de référence les dispositifs thérapeutiques sont destinés à éliminer et à effacer les traits de la maladie, et les interventions se limitent rapidement à la prescription de psychotrope. Pour le thérapeute un tel cadre lui permet aussi d'éliminer les craintes et les angoisses que la situation et le risque associé peuvent lui provoquer.


En 2003, Michel Minard écrit dans la Revue Sud/Nord: « (…) Pour Thomas Khun, interprété par Klerman, l´histoire des sciences est ponctuée de révolutions, dont l´essence est l émergence d´un nouveau paradigme, d´un nouveau modèle, qui fournit aux scientifiques la possibilité de se débarrasser des anciens et ouvre des nouvelles de recherches et de théorisation. Et Klerman d´affirmer tout bonnement que le nouveau paradigme psychiatrique tourne autour de l´usage de critères opérationnels pour établir des jugements diagnostiques de nature catégorielle, typologique et nosologique. Autrement dit, le nouveau paradigme c´est le DSM III. »

Continuant à citer Michel MINARD «Quand on sait, que Klerman envisage de surcroît qu´une bonne pratique psychiatrique passe, obligatoirement par un entretien standardisé avec les patients, par l´utilisation systématique d´échelles d´évaluation en tout genre et par un diagnostique informatiquement assisté par des systèmes experts (ce qu´on voit dejá en germe dans les arbres de decision du DSM III), on imagine assez bien ce que pourrait éventuellment devenir (…): un catalogue de critères diagnostiques accompagné d´une disquette informatique contenant un système expert d´aide au diagnostique et à la prescription, avec la nature et le nombre des pilules à prendre, dans chaque cas, le temps et le coût du traitement ou de l´hospitalisation (…). Resteron au travail quelque néokraepeliniens vaquant de leur laboratoire à leur ordinateur. Ce sera propre, simple, rapide, précis et pas cher. Après l´ère du fast food , l´ère du fast drug!»


La perte d´une vision holistique du sujet, la perspective fragmentée des connaissances, la « théorisation du symptôme», et la définition de stratégies fondée dans l´offre des services, stimulent et renforcent les comportements de dépendance, augmentant les risques de chronicité et l´exclusion, avec toutes les conséquences qui lui sont inhérentes, comme le démontre certains mythes associés à la maladie mentale : celui du danger – très répandu dans l´opinion publique, et renforcé dans les milieux de la communication; celui de l´incapacité - lié à la fausse idée que les malades psychiatrique ne sont pas capables de travailler, d´assumer des responsabilités, de gérer leurs biens, d´élever leurs enfants, de s´occuper d´une affaire et de prendre des décisions; Le mythe de la perte de droits, le plus grave du point de vue de la discrimination parce qu´il produit de l´invisibilité.


Dans le monde du « je veux-je veux » et « tout de suite- tout de suite » comment peut-on dépasser cette situation?


Concilier les soins implique nécessairement la décentralisation d´activités et pratiques, et une approximation plus étroite entre les diverses institutions et techniciens de la et dans la communauté. Cela oblige dans un premier pas, à «sortir des cabinets» et chercher à favoriser la « construction» d´alternatives à l´intervention institutionnelle à travers de l´inscription d´une présence quotidienne au niveau des réseaux d´intervention. Deux idées fondamentales sont sous-jacentes dans la définition et l´adoption de cette stratégie:

- Dévaloriser l´«exclusivité» du symptôme «reconduisant» la demande d´aide individuelle, vers le collectif dont il fait partie;

- Favoriser au niveau de l´institution, des alternatives qui redonnent aux réseaux primaires tout leur potentiel de savoir pratique et dans les réseaux de services l´émergence d´un tel savoir, visant dépasser la dépendance que cette situation déclenche, et évoluer vers un niveau de plus grande autonomie.


D´après certains travaux scientifiques, il existe une forte relation entre l´absence de réseaux de soutien et l´hospitalisation de personnes qui souffrent de maladies mentales (M. Hammer, 1963), de la même façon qu´entre les degrés d´institutionnalisation et la détérioration d´un malade et la qualité du propre réseau de soutien (R. J. Kleiner et S.Parker, 1974).


Selon le Rapport Mondial de la Santé de 2001 «L´idée de soins en santé mentale basée sur la communauté constitue un abordage global; elle doit viser l´émancipation et utiliser des techniques de traitement efficaces pour permettre aux malades d´augmenter leurs aptitudes, intégrant l´ambiance sociale informelle de la famille bien comme les mécanismes d´appui formels. Les soins basés sur la communauté, peuvent identifier des recours et créer des alliances saines qu´en d´autres circonstances, seraient occultes et inactives; l´usage de ces recours permet un meilleur control de la charge sociale et familiale, traditionnellement soulagée par les soins institutionnels».


Selon le même document la prestation de soins, au niveau communautaire, devra être associée, à l´existence d´une ample gamme de services ambulatoires, situés près du domicile des maladies, en tenant compte, cas par cas, de leurs nécessités, en incluant une offre de traitement au domicile, associés en partenariat, avec l'établissement de la législation qui donne support à tous ces aspects.


L´OMS défend aussi qu´un procès de désinstitutionalisation bien fondé a trois conditions essentielles: offrir des services communautaires, afin de prévenir des admissions inadéquates dans les hôpitaux psychiatriques; promouvoir le retour dans la communauté des malades institutionnels à long terme, qui ont eu une préparation adéquate; et, renforcer l´établissement et la manutention de systèmes de soutien communautaire pour les malades non institutionnalisés.


Malgré l’importance croissante des maladies mentales, les mythes sur la maladie mentale et la stigmatisation du malade persistent, même parmi les professionnels de la santé. L´ignorance au sujet du progrès survenu les dernières décennies, concernant au diagnostique et, surtout au traitement de ces maladies, est encore très importante. Pour cette raison, dans beaucoup de pays, la santé mentale est un domaine très négligé dans l'ensemble des services de santé et le malade continue encore aujourd'hui à être victime de plusieurs types de discrimination.


Inclure la santé mentale dans le programme de santé publique et permettre à toutes les populations l'accès à des services de santé mentale, devient dans nos jours un objectif que l´on ne peut pas repousser dans le monde entier.


Le Rapport Mondial de la Santé de 2001 montre clairement que les gouvernements ont autant de responsabilités vis-à-vis la santé mentale que la santé physique de ses citoyens. Comme derniers gestionnaires de quelconque système de santé, les gouvernements ont besoin d'assumer la responsabilité de garantir l'élaboration et l'application de politiques de santé mentale.


Je veux terminer en lisent Antoine de Saint-Exupéry dans son «Petit Prince»:

Le renard se tut et regarde longtemps le petit prince :

- S'il te plait (...) apprivoise-moi, dit-il.

- Je veux bien, répondit le petit prince, mais je n'ai pas beaucoup de temps. J'ai des amis à découvrir et beaucoup de choses à connaître.

- On ne connaît que les choses que l'on apprivoise, dit le renard. Les hommes n'ont plus le temps de rien connaître. (…) on ne voit bien qu'avec le cœur. L'essentiel est invisible pour les yeux.



COIMBRA, Novembro 2007





 
 
 

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